A Bruxa de Emaús II
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A bruxa já conhecia Emaús; um
Parna, e um Ceará pequeno. Agora a bruxa queria conhecer a ilha de Fernando de
Noronha, mas sabia que era perigoso voar de vassoura para lá, tinha que
atravessar o mar. E ouviu falar de um candidato a um cargo público, que quando
eleito, e se fosse eleito, construiria uma ponte até lá. E de carro seria mais
fácil chegar. Agora só faltava um carro comprar, e também se habilitar, com a
CNH. Um breve de vassoura desde acolá ela já tinha, sem permitir a jatinhos. Ela
era contra as cacofonias, achava cafona.
Tinha o hábito de cantarolar. E
com tantas músicas sobre carros amarelos, estaria então decidida a cor do
carrão. E então ela cantava preparando uma poção: “ ... minha Brasília amarela,
está de portas abertas...”. E outras músicas: “ Agora eu fiquei doce doce....
“. E ela preparava doces, caramelos e poções que facilitassem a obtenção de uma
carta de habilitação. Queria adoçar a boca do avaliador do DETRAN com doces e
caramelos, pois quem sabe, ela habilitada, compraria um Camaro amarelo. Tendo
como última alternativa, em ser reprovada na avaliação, uma poção.
O candidato com a promessa
anunciada não foi eleito. E a ponte não foi construída por falta de
conhecimentos e equipamentos técnicos; e por falta de licitação, por critérios que
evitavam o superfaturamento e a corrupção. Mas a CNH foi tentada. E agora o
avaliador está todo torto em cima de uma cadeira de rodas, pois não aprovou o
teste de baliza e direção, não ganhou caramelos e doces, mas ganhou uma poção. Adeus
estrada dos tijolos amarelos, a música do escritor e roqueiro anglicano, Thiago
Gonzaga. Restou um carro amarelo empoeirado parado na garagem, e as teias de
aranha enfeitavam o ambiente. Os amarelinhos da cidade, não viram o seu carro
envenenado. Um carro que para vender seria preciso agora fazer uma boa revisão,
era necessário levar a um posto com um bom mecânico. Precisava vender antes do
amarelo ficar esbranquiçado. E Mané Beradeiro, seu vizinho, deu uma opção, fez
uma sugestão.
Mane Beradeiro, era um cabra treiteiro,
conhecido por contar causos na região. Andava todo arrumadinho. Dizia que a
mala era de Mossoró, e o chapéu era de Caicó, com alpercatas de Acari, camisa
de Natal, cinturão de Macaíba, e ceroula de Apodi. E ainda tinha uma conta
bancária em Itaú. Neto de coronéis, Ezequiel e João Pessoa. Era sobrinho de
tenentes, Ananias e Laurindo Cruz. Mas na verdade era um caçador de Jaçanã em
Jucurutu, e suas roupas eram vindas de Brejinho, e lavadas em Lagoa Salgada.
Foi candidato a prefeito em Serra Caiada, prometendo colorir a serra, tal como
fez em Lages Pintadas.
E Mane Beradeiro, o contador
de causo, indicou o posto do Eduardo, ali “ben pertinho”, “ben juntinho” da BR,
o posto que ele parava quando ia na praia de “Pititinga”, com “un” sotaque ‘ben”
fininho. Indicou o posto, para fazer uma inspeção no carro amarelo.
E lá foi a bruxa em busca do
posto do Eduardo, disseram que lá tinha mecânico e lava jato.
— “Bon dia Dona”, falou o
pastorador.
— “Bon dia”. Eu queria fazer
uma revisão no meu carro
— Por favor, estacione logo
ali.
E saiu a bruxa em busca de uma
vaga para estacionar, e a bruxa de nariz empinado, queria uma vaga exclusiva,
uma vaga bem destacada, para seu carro amarelo, que estava ficando fulerado.
Texto
anterior disponível em:
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