A
bruxinha do café
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A bruxinha do café fez uma
parada para a vassoura descansar. Era preciso uma pausa antes de chegar ao
destino final. Uma pausa para descansar, e uma pausa para sensualizar. Uma
pausa para voltar a pegar a estrada. Uma estrada com caminhos pelo ar. E a
bruxinha resolveu estacionar, fazer uma parada para o café. Um café com luzes e
sombras. O café das ebulições. Queria sentir e causar sensações.
O café das ilusões, das
concentrações etéreas. O café das infusões. O café dos elementos. O café que
foi plantado e cuidado. O café que foi colhido e escolhido. O café que foi
torrado e misturado a outros grãos, com diferenças de sabores e maturações,
criando novos blends, que proporcionam novos aromas e sabores.
O café, que suas sementes já
descansaram no sereno e ao Sol, ocuparam tabuleiros e terreiros. Escutaram
canções e cantorias daqueles que plantaram e que colheram. O café que foi
mexido e revirado para secar e descascar. Saltou para o ar em peneiras, sopradas
pelos ventos. Em cestos sobre as cabeças de agricultores e catadores, caminhou
entre os cafezais. Por alguns momentos esteve presente nas conexões dos
pensamentos e orações, daqueles que tinham cestos apoiados em suas cabeças.
Escutou falas e murmúrios que não se ouvem.
E foi levado ao fogo, no
caldeirão de ferro para torrar; de grãos escolhidos e torrados, tornou-se pó.
Mexido e revirado no caldeirão, escutou pensamentos, daqueles que exalaram suor
com o calor e o cheiro do pó. Torrado e torrando levou seu cheiro longe.
Da terra ele veio e tornou-se
pó, pulverizando pensamentos. Com a agua sobre seu leito final, iria para outro
lugar. Ali naquele leito dividira-se em pelo menos três partes; o café passado,
o café coado com um destino futuro, e o cheiro do café presente. Passado,
presente e futuro por coadores de pano e de fundo. Quando não há coador, uma
brasa colocada na panela, o pó vai ao fundo, assim relatam os caminhantes das
matas, em acampamentos.
A água fervida sobre o fogo,
vertida sobre o pó, exalando odores pelo ar, sem saber em que narinas poderão
chegar. O café fez um caminho do campo para a cidade, seguiu caminhos diferentes
das aguas dos rios, até as cozinhas que traziam as aguas pelas torneiras. Na
cozinha encontrou a agua e o fogo, que ardia com a lenha também vinda de outro
lugar. Enfim aqueles três elementos, frutos da terra, se encontraram em algum
lugar. E a bruxinha chegava para compor o lugar e a reunião, fazer uma
apreciação.
Em seus pensamentos, ventos,
borboletas e luas, rodopiavam e se misturavam. Seus cabelos e seus olhos
denunciavam, que novos pensamentos e novos conhecimentos estavam sendo
construídos por aquela gama de conhecimentos e informações adquiridas. O café além
do gosto e do cheiro, tinha uma história.
Em pose sensual, estava
sentada. Ocupava um círculo formado por uma sombra, a sombra do luar. Tomou o
café presente acompanhado pelo aroma, com fumaças indo para o futuro. O pó que
restou era passado. Era hora de ir a outro lugar. A vassoura a aguardava do
lado de fora, pronta para continuar.
Texto disponível
em:
Outros cafés
Uma voz e um violão no Café Linkest
A menina do Café Linkest
Outros textos:
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Entre Natal/RN e
Parnamirim/RN, 4/09/15
por
Roberto Cardoso (Maracajá)
Reiki Master & Karuna Reiki Master
Jornalista Científico
FAPERN/UFRN/CNPq
Plataforma Lattes
Produção Cultural
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