quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Bruxa de Emaús II


 
A Bruxa de Emaús II
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A bruxa já conhecia Emaús; um Parna, e um Ceará pequeno. Agora a bruxa queria conhecer a ilha de Fernando de Noronha, mas sabia que era perigoso voar de vassoura para lá, tinha que atravessar o mar. E ouviu falar de um candidato a um cargo público, que quando eleito, e se fosse eleito, construiria uma ponte até lá. E de carro seria mais fácil chegar. Agora só faltava um carro comprar, e também se habilitar, com a CNH. Um breve de vassoura desde acolá ela já tinha, sem permitir a jatinhos. Ela era contra as cacofonias, achava cafona.

Tinha o hábito de cantarolar. E com tantas músicas sobre carros amarelos, estaria então decidida a cor do carrão. E então ela cantava preparando uma poção: “ ... minha Brasília amarela, está de portas abertas...”. E outras músicas: “ Agora eu fiquei doce doce.... “. E ela preparava doces, caramelos e poções que facilitassem a obtenção de uma carta de habilitação. Queria adoçar a boca do avaliador do DETRAN com doces e caramelos, pois quem sabe, ela habilitada, compraria um Camaro amarelo. Tendo como última alternativa, em ser reprovada na avaliação, uma poção.

O candidato com a promessa anunciada não foi eleito. E a ponte não foi construída por falta de conhecimentos e equipamentos técnicos; e por falta de licitação, por critérios que evitavam o superfaturamento e a corrupção. Mas a CNH foi tentada. E agora o avaliador está todo torto em cima de uma cadeira de rodas, pois não aprovou o teste de baliza e direção, não ganhou caramelos e doces, mas ganhou uma poção. Adeus estrada dos tijolos amarelos, a música do escritor e roqueiro anglicano, Thiago Gonzaga. Restou um carro amarelo empoeirado parado na garagem, e as teias de aranha enfeitavam o ambiente. Os amarelinhos da cidade, não viram o seu carro envenenado. Um carro que para vender seria preciso agora fazer uma boa revisão, era necessário levar a um posto com um bom mecânico. Precisava vender antes do amarelo ficar esbranquiçado. E Mané Beradeiro, seu vizinho, deu uma opção, fez uma sugestão.

Mane Beradeiro, era um cabra treiteiro, conhecido por contar causos na região. Andava todo arrumadinho. Dizia que a mala era de Mossoró, e o chapéu era de Caicó, com alpercatas de Acari, camisa de Natal, cinturão de Macaíba, e ceroula de Apodi. E ainda tinha uma conta bancária em Itaú. Neto de coronéis, Ezequiel e João Pessoa. Era sobrinho de tenentes, Ananias e Laurindo Cruz. Mas na verdade era um caçador de Jaçanã em Jucurutu, e suas roupas eram vindas de Brejinho, e lavadas em Lagoa Salgada. Foi candidato a prefeito em Serra Caiada, prometendo colorir a serra, tal como fez em Lages Pintadas.

E Mane Beradeiro, o contador de causo, indicou o posto do Eduardo, ali “ben pertinho”, “ben juntinho” da BR, o posto que ele parava quando ia na praia de “Pititinga”, com “un” sotaque ‘ben” fininho. Indicou o posto, para fazer uma inspeção no carro amarelo.

E lá foi a bruxa em busca do posto do Eduardo, disseram que lá tinha mecânico e lava jato.

— “Bon dia Dona”, falou o pastorador.

— “Bon dia”. Eu queria fazer uma revisão no meu carro

— Por favor, estacione logo ali.

E saiu a bruxa em busca de uma vaga para estacionar, e a bruxa de nariz empinado, queria uma vaga exclusiva, uma vaga bem destacada, para seu carro amarelo, que estava ficando fulerado.

 Entre Natal/RN e Parnamirim/RN, 16/09/15

Texto anterior disponível em:
http://mirnasemarinas.blogspot.com.br/2015/09/a-bruxa-de-emaus.html
http://www.publikador.com/sem-categoria/maracaja/2015/09/a-bruxa-de-emaus/

 

 
 
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sábado, 12 de setembro de 2015

A Bruxa de Emaús



 
A Bruxa de  Emaús
PDF 473
 
 
A bruxa chegou voando em sua vassoura, em lugar denominado de Emaús, no estado que lembra um elefante. Instalou-se ali com o caldeirão e a vassoura, e construiu uma horta com ervas daninhas. Todos os dias saía de Emaús e atravessava um grande rio. Orientava-se pela torre do antigo aeroporto para chegar em casa.

Veio lá das bandas de um tal de São José do Egito, em um estado com tamanho longo e esquio, lembrando uma serpente. Atravessou o estado que lembra um asno, e chegou no estado do elefante. Filha de uma família de poetas e de vaqueiros, acabou por adquirir uma intolerância ao sobrenome.

Perto alguns quilômetros de Emaús, antes de atravessar o rio, a bruxa optou por fazer parte de uma entidade secreta, que fazia reuniões as quintas-feiras, nos fundos de uma livraria abandonada. No sótão da livraria havia uma antiga máquina de escrever, e uma grande muleta encostada em uma das paredes, denotando a alta estatura de seu antigo usuário. Alguns retratos e papeis velhos estavam espalhados por ali, parecia um museu não frequentado. O silencio era quebrado por alguns sons não identificados. Por vezes durante algumas visitas, a máquina começava a datilografar sozinha. E o dono da livraria abastecia a máquina com um papel contínuo. Recolhendo histórias, novelas e contos periodicamente, quando fumava um charuto de havana, analisando os textos impressos, no papel continuo.

A bruxa chegava na livraria, e guardava sua vassoura entre outras, para não ser percebida. O acesso a comunidade secreta era mediante uma senha, um conjunto de letras: S-P-V-A, letras para serem citadas antes de uma porta giratória, com um ranger de rodas de carros rurais antigos. Além da senha havia uma contrassenha mais secreta ainda (Sociedade Para Velhos e Aposentados), contrassenha que poucos conheciam. E a bruxa se infiltrou na sociedade secreta, com versos escritos em pergaminhos. Entrou na sociedade para seduzir os velhinhos.

A bruxa com intolerância ao sobrenome, gostava de ficar algum tempo, antes e depois das reuniões, na antessala da sala secreta, o lugar das reuniões. Era um lugar onde havia algumas mesas e cadeiras, um lugar parecido com um café, um estilo de pub, já que era escassa a luminosidade, e muitos trajavam preto. Ali eram servidos: café e leite, com alguns pães de queijo clandestinos. O preparador de café gostava de finalizar as taças de café depois do preparo colocando um pozinho. Não se sabe, mas talvez o pó pulverizado seja um feitiço para algumas feitiçarias. O pó com cor e aspecto de asa de barata moída.

Durante as reuniões secretas era comum autores e escritores saírem dos livros. Saiam dos livros para recitar seus livros em versos e prosas. Repetiam cenas já acontecidas, quando em longínquos tempos lançaram seus livros, ali na mesma livraria.

Às quintas feiras era o dia da bruxa no ar, entrar na livraria. Outros personagens de livros também frequentavam a livraria. Tinha o pequeno príncipe de Sant Exupéry, algumas senhoras fantasiadas de Minnies, entre uma ou outra catita. E outras dioclessianas, lideradas pela mágica de Oz e seu fiel escudeiro Sand, que portava uma garrafa misteriosa, com poções de feitiçarias.
12/09/15
the day after
 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A bruxinha do café


A bruxinha do café

 

PDF 470

 
 
A bruxinha do café fez uma parada para a vassoura descansar. Era preciso uma pausa antes de chegar ao destino final. Uma pausa para descansar, e uma pausa para sensualizar. Uma pausa para voltar a pegar a estrada. Uma estrada com caminhos pelo ar. E a bruxinha resolveu estacionar, fazer uma parada para o café. Um café com luzes e sombras. O café das ebulições. Queria sentir e causar sensações.

O café das ilusões, das concentrações etéreas. O café das infusões. O café dos elementos. O café que foi plantado e cuidado. O café que foi colhido e escolhido. O café que foi torrado e misturado a outros grãos, com diferenças de sabores e maturações, criando novos blends, que proporcionam novos aromas e sabores.

O café, que suas sementes já descansaram no sereno e ao Sol, ocuparam tabuleiros e terreiros. Escutaram canções e cantorias daqueles que plantaram e que colheram. O café que foi mexido e revirado para secar e descascar. Saltou para o ar em peneiras, sopradas pelos ventos. Em cestos sobre as cabeças de agricultores e catadores, caminhou entre os cafezais. Por alguns momentos esteve presente nas conexões dos pensamentos e orações, daqueles que tinham cestos apoiados em suas cabeças. Escutou falas e murmúrios que não se ouvem.

E foi levado ao fogo, no caldeirão de ferro para torrar; de grãos escolhidos e torrados, tornou-se pó. Mexido e revirado no caldeirão, escutou pensamentos, daqueles que exalaram suor com o calor e o cheiro do pó. Torrado e torrando levou seu cheiro longe.

Da terra ele veio e tornou-se pó, pulverizando pensamentos. Com a agua sobre seu leito final, iria para outro lugar. Ali naquele leito dividira-se em pelo menos três partes; o café passado, o café coado com um destino futuro, e o cheiro do café presente. Passado, presente e futuro por coadores de pano e de fundo. Quando não há coador, uma brasa colocada na panela, o pó vai ao fundo, assim relatam os caminhantes das matas, em acampamentos.

A água fervida sobre o fogo, vertida sobre o pó, exalando odores pelo ar, sem saber em que narinas poderão chegar. O café fez um caminho do campo para a cidade, seguiu caminhos diferentes das aguas dos rios, até as cozinhas que traziam as aguas pelas torneiras. Na cozinha encontrou a agua e o fogo, que ardia com a lenha também vinda de outro lugar. Enfim aqueles três elementos, frutos da terra, se encontraram em algum lugar. E a bruxinha chegava para compor o lugar e a reunião, fazer uma apreciação.

Em seus pensamentos, ventos, borboletas e luas, rodopiavam e se misturavam. Seus cabelos e seus olhos denunciavam, que novos pensamentos e novos conhecimentos estavam sendo construídos por aquela gama de conhecimentos e informações adquiridas. O café além do gosto e do cheiro, tinha uma história.

Em pose sensual, estava sentada. Ocupava um círculo formado por uma sombra, a sombra do luar. Tomou o café presente acompanhado pelo aroma, com fumaças indo para o futuro. O pó que restou era passado. Era hora de ir a outro lugar. A vassoura a aguardava do lado de fora, pronta para continuar.

 

Texto disponível em:


 

Outros cafés

 

Uma voz e um violão no Café Linkest


 

A menina do Café Linkest


 

 

 

 

 

 

 
Outros textos:
 
 
 

 

 

Entre Natal/RN e Parnamirim/RN, 4/09/15

 

 

por
Roberto Cardoso (Maracajá)
Reiki Master & Karuna Reiki Master
Jornalista Científico
FAPERN/UFRN/CNPq
 
Plataforma Lattes
Produção Cultural