A
Mansão dos Pedersens
Coisas estranhas acontecem
na mansão dos Pedersens. Estranhas a partir das presenças, das ausências e das convivências,
entre os animais e as pessoas que ali residem, vivem e habitam. Alguns aparecem
e desaparecem, passam sem deixar vestígios. Seres humanos, animais domésticos e
selvagens, animais cativados e não cativados. Um bioma diferenciado, um grupo
sem presas ou sem caças, e sem animais predadores. Um Shangri-La de um Horizonte
Perdido, a casa de Dersu Uzala
Tirando alguns fatos comuns
e relatáveis que podem acontecer em qualquer lugar, outros fatos ali acontecem.
São os fatos e os casos, mais estranhos, mais absurdos e inimagináveis que
acontecem e se registram por ali. Inumeráveis fatos: dos acreditáveis aos não
acreditáveis. Fatos apenas registrados pelos olhos atentos, e fatos que podem
cair no esquecimento. Câmeras e fotográficas conseguem poucos resultados ao
tentar registrar imagens.
Girafas curiosas visitam a
sala de jantar. Raposas aparecem nos vinhedos, buscando serem cativadas. Gatos
do mato se instalam em algumas dependências da casa. Instalam-se trazendo suas
ninhadas, formam ali suas genealogias. Lagartos, camaleões e teiús passeiam
pelas varandas que contornam a casa. Morcegos fazem voos rasantes durante o
dia. Enquanto corujas anunciam as horas aparecendo e desaparecendo de suas
tocas. Nada é rotineiro, nada é corriqueiro.
Os animais selvagens que se
tornam domésticos são batizados com nomes de próprios de pessoas, enquanto as
pessoas e os ocupantes da casa têm nomes monossilábicos. Ali não existe o tempo
e não existe o verbo. O invisível que se faz presente é o vento. Passado,
presente e futuro se confundem com o passar das horas. Animais do presente
convivendo com animais do futuro e do passado. Animais velozes e ágeis convivem
com animais frágeis e estáticos.
Talvez inebriadas por um som
ou uma música, os animais ali chegavam e chegam, para passear ou se instalar.
Animais considerados extintos; animais de outro habitat diferentes daquele. E
animais de outros continentes. Inclusive animais ainda não descobertos e
catalogados. Um lugar que Darwin nunca esteve. Entre Galápagos e a Ilha de Java,
com vestígios escandinavos. Palavras em dinamarquês são verbalizadas pelas
paredes.
Ali viviam sete personagens,
supostamente reais. Personagens que dariam uma bela história. Personagens da
natureza e personagens do imaginário. Personagens humanos e não humanos, que um
dia na história foram deuses. A começar pelo Sol que todos os dias têm uma
tarefa que começa ao amanhecer e se prolonga até o anoitecer. Diariamente faz
um trabalho de visitação e investigação sobre a propriedade. Cruzando tudo, iluminando
tudo, todos os caminhos de Leste para Oeste em vistoria. Um olhar do alto, sobre
aquelas paragens.
A personagem mais real até o
momento é Si. E Si quando está com Dó recolhem e abrigam animais para La,
acolhendo e aquecendo com Sol e Fá. Quando Si queria se afastar do mundo,
isolava-se no sótão. E para que ninguém a incomoda-se, depois de subir, recolhia
e enrolava a escada, antes utilizada. E guardava o grande rolo da escada enrolada,
debaixo da mesma escada. Que por algum tempo não existiria, ninguém a
perceberia, ali escondida e guardada.
Nuvens no céu apresentam
formas estranhas como se fossem presságios. No espaço aberto da propriedade,
com suas árvores contorcidas ou retorcidas, copadas ou desfolhadas, lembram silhuetas
de enormes animais pré-históricos. Talvez os animais que tenham vivido ali no
passado. Deixaram formas nas árvores, como retratos de família em casarões
centenários.
Nuvens criam desenhos imaginários
espalhados pelo ar.
RN
11/04/15
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