sexta-feira, 24 de abril de 2015

Mansão dos Pedersens (parte 2)



Mansão dos Pedersens 
(parte 2)



Si faz parte do rol das fãs de livros, gostava de ler e escrever. Gostava de arrumar livros, visitar livrarias e revirar bibliotecas. Por diversas vezes era convidada a dar palestras para alunos do curso fundamental, e os temas eram sempre livros, livros e livros. Algumas vezes falava de escritores infantis e seus livros. 

Uma grande biblioteca havia na mansão. E Si gostava de arrumar os livros, criava novas arrumações de acordo com temas que estava pesquisando e estudando. Era uma oportunidade de passar horas e horas com os livros pelas mãos: um a um. Espanava os livros, abria espaços para colocar os livros em novas posições. Uma relação entre o real e o mental. À medida que arrumava e limpava os livros, arrumava e limpava a mente, criava e mudava ideias. Papeis velhos esquecidos e sujeiras eram juntadas em um canto. E vez por outra Si fazia intervalos, e tirava a vassoura para dançar. 

Livros são os nossos HDs externos, nossos pen drives sempre à mão. Com a internet e a facilidade de pesquisa, os livros se tornam hiperlinks confiáveis. Com as mãos e braços fazemos um link direto entre o livro e o cérebro. Com os olhos uma conexão sem fios, um blue touch; green touch, ou black touch, depende da Iris de cada um.

Arrumar os livros era uma oportunidade de relembrar de histórias e temas já estudados. Rever arquivos antigos arquivados na mente. Uma arrumação que nunca ficava igual a anterior. Cada livro iria conhecer novos lugares nas estantes, e seus novos vizinhos. Era um revirar de livros e energias estacionadas. A energia precisa circular, mudar de lugar para não estagnar. Si dizia que água parada cria lodo, e livro fechado cria mofo. A água precisa circular para não criar lodo, e o livro precisa respirar para não criar mofo. Um trabalho com os quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Sendo o fogo um elemento perigoso de lidar e controlar, estava limitado à cozinha e aos raios de sol que entram pelas janelas. Uma claraboia fazia a composição do cenário do exercito de livros enfileirados e perfilados, ao mesmo tempo em que trazia mais luz ao ambiente, enquanto livros que eram lidos traziam luz à mente.

Si como escritora de livros infantis, não queria seus personagens presos. Os personagens dos livros precisam vir do lado de fora ver o mundo. É preciso que de vez em quando cada livro seja aberto e suas paginas folheadas. Assim seus personagens podiam respirar e ver a luz.

E um dia arrumando livros em uma das bibliotecas da mansão dos Pedersens, deparou-se com um problema. Não sabia onde colocar alguns livros, como classificar seus temas diante outros livros que já estavam em seus locais definidos. Determinados livros que falavam sobre algo mais, livros que iam alem da imaginação. A partir de seus conhecimentos de pedagogia, que envolviam uma psicologia, fez uma opção de colocar os livros depois dos seus livros de psicologia, nomeou aquele espaço de parapsicologias, coisas que iam alem da psicologia. E efeitos e fenômenos paranormais eram muito comuns acontecerem na mansão. 

Certa vez, era um dia de arrumação da biblioteca, o dia terminava e precisava logo terminar sua tarefa. O espaço existente para arrumar os últimos livros ficava próximo a uma janela, junto aos paranormais. Os últimos raios de Sol eram traçados a partir do horizonte, cruzando os espaços da janela. E estava Si arrumando os últimos livros com uma claridade ainda restante que atravessava os vidros da janela. Si estava tranquilamente arrumando livros próximos à janela, aonde ainda chegavam os últimos raios de sol do dia.

Terminada a tarefa, três elementos haviam sido manipulados. O ar que arejou e circulou no ambiente, a terra espanada e varrida do ambiente, representada por pós e poeira, mais os livros com folhas de papel que um dia nasceu da terra. Por fim água para lavar as mãos e o corpo depois das tarefas. Tarefa terminada, só faltava fechar a ultima janela. O elemento fogo era incompatível com as tarefas. Talvez mais tarde com um chá quente, e sentada para descansar, completasse a sequencia dos elementos. E eis que um enorme dragão soltando fogo é avistado pela janela. O quarto elemento agora estava presente. E a tarefa terminada.






Mas ai então começa uma duvida. Estaria o dragão pedido ajuda? Muitos animais chegavam à casa para pedir ajudas. Si fez a opção de escolher um chá digestivo, para mais tarde. Optou pelo chá que ensinava e motivava crianças. O chá ABC, composto de três ervas em letras seguidas: A, B e C: alecrim, boldo e camomila. 

Tudo deveria estar preparado. O dragão ainda estava na linha do horizonte e quem sabe talvez chegasse na hora do chá, pedindo uma ajuda ou uma sugestão, com uma azia ou uma má digestão.

Roberto Cardoso
(Maracajá)

RN 24/04/15



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A Mansão dos Pedersen
 
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sábado, 11 de abril de 2015

A Mansão dos Pedersens



A Mansão dos Pedersens 



Coisas estranhas acontecem na mansão dos Pedersens. Estranhas a partir das presenças, das ausências e das convivências, entre os animais e as pessoas que ali residem, vivem e habitam. Alguns aparecem e desaparecem, passam sem deixar vestígios. Seres humanos, animais domésticos e selvagens, animais cativados e não cativados. Um bioma diferenciado, um grupo sem presas ou sem caças, e sem animais predadores. Um Shangri-La de um Horizonte Perdido, a casa de Dersu Uzala

Tirando alguns fatos comuns e relatáveis que podem acontecer em qualquer lugar, outros fatos ali acontecem. São os fatos e os casos, mais estranhos, mais absurdos e inimagináveis que acontecem e se registram por ali. Inumeráveis fatos: dos acreditáveis aos não acreditáveis. Fatos apenas registrados pelos olhos atentos, e fatos que podem cair no esquecimento. Câmeras e fotográficas conseguem poucos resultados ao tentar registrar imagens.

Girafas curiosas visitam a sala de jantar. Raposas aparecem nos vinhedos, buscando serem cativadas. Gatos do mato se instalam em algumas dependências da casa. Instalam-se trazendo suas ninhadas, formam ali suas genealogias. Lagartos, camaleões e teiús passeiam pelas varandas que contornam a casa. Morcegos fazem voos rasantes durante o dia. Enquanto corujas anunciam as horas aparecendo e desaparecendo de suas tocas. Nada é rotineiro, nada é corriqueiro.

Os animais selvagens que se tornam domésticos são batizados com nomes de próprios de pessoas, enquanto as pessoas e os ocupantes da casa têm nomes monossilábicos. Ali não existe o tempo e não existe o verbo. O invisível que se faz presente é o vento. Passado, presente e futuro se confundem com o passar das horas. Animais do presente convivendo com animais do futuro e do passado. Animais velozes e ágeis convivem com animais frágeis e estáticos.

Talvez inebriadas por um som ou uma música, os animais ali chegavam e chegam, para passear ou se instalar. Animais considerados extintos; animais de outro habitat diferentes daquele. E animais de outros continentes. Inclusive animais ainda não descobertos e catalogados. Um lugar que Darwin nunca esteve. Entre Galápagos e a Ilha de Java, com vestígios escandinavos. Palavras em dinamarquês são verbalizadas pelas paredes.

Ali viviam sete personagens, supostamente reais. Personagens que dariam uma bela história. Personagens da natureza e personagens do imaginário. Personagens humanos e não humanos, que um dia na história foram deuses. A começar pelo Sol que todos os dias têm uma tarefa que começa ao amanhecer e se prolonga até o anoitecer. Diariamente faz um trabalho de visitação e investigação sobre a propriedade. Cruzando tudo, iluminando tudo, todos os caminhos de Leste para Oeste em vistoria. Um olhar do alto, sobre aquelas paragens.

A personagem mais real até o momento é Si. E Si quando está com Dó recolhem e abrigam animais para La, acolhendo e aquecendo com Sol e Fá. Quando Si queria se afastar do mundo, isolava-se no sótão. E para que ninguém a incomoda-se, depois de subir, recolhia e enrolava a escada, antes utilizada. E guardava o grande rolo da escada enrolada, debaixo da mesma escada. Que por algum tempo não existiria, ninguém a perceberia, ali escondida e guardada.

Nuvens no céu apresentam formas estranhas como se fossem presságios. No espaço aberto da propriedade, com suas árvores contorcidas ou retorcidas, copadas ou desfolhadas, lembram silhuetas de enormes animais pré-históricos. Talvez os animais que tenham vivido ali no passado. Deixaram formas nas árvores, como retratos de família em casarões centenários. 

Nuvens criam desenhos imaginários espalhados pelo ar.