Seitas
e receitas (2)
Modo
de preparo
Como o primeiro ato do
preparo, afaste os bodes e os carneiros, para favorecer e apurar o gosto e o
faro. Como ato inicial acenda o fogo com jornal. Antes de qualquer ato feche as
torneiras, portas e janelas, evitando assim, ventos frios e tremedeiras. Retire
tudo da geladeira antes de refogar na frigideira.
Misture os ingredientes
úmidos em uma panela. Os ingredientes secos em uma gamela. Durante a diluição,
e a decocção cria-se uma devoção. Pode-se então cantar algumas ladainhas da primeira
geração. Girando e cantando; batendo com a sola do pé, e com a palma da mão: “De
abobora faz melão, e de melão faz melancia...”; adicionando frases e
ingredientes “Faz doce, faz doce a Maria”...; ou “Fui ao tororó, beber água e
não achei, mas achei bela morena que no tororó deixei...” E ainda: “batatinha
quando nasce se esparrama pelo chão ...” ou “batatinha quando nasce espalha
ramas pelo chão ...”, e etc. Lenha seca e carvão, pega fogo de montão. Atire o
pau no gato e no fogo quando for necessário avivar as chamas e a canção.
Em um fogão sobre o chão
coloque um caldeirão. Com lenha seca, estrume velho, ou carvão. Encher o
caldeirão com o solvente universal, de preferência o encontrado e retirado no
tororó. Junte água ardente ou água que passarinho não bebe. Aguardente, cachaça
ou pinga. Primeiro a bendita, depois a malvada e a maldita. A ‘marvada’ ou a ‘mardita’
de acordo com a praça ou a região; são mais de cinquenta e uma variedades de
velhos e novos barreiros. Evite encher muito o pote, a cara e a pança, evitando
cefaleias e enxaquecas, no pote e no cocorote. Evite misturas mal compassadas e
pernas embaralhadas. Acerte e prumo, o relógio e a bussola. Não misture o álcool
com a direção.
Adicione as pedras que lhe
atiraram. Espere aquecer, esquentar e levantar fervura, com uma intensa
evaporação. Borbulhas vão surgir do fundo, em um ranger de pedras como um
ranger de dentes, ou um bruxismo. Nuvens esfumaçadas subirão em direção ao
teto. Neste momento o calor pode ser intenso. Convém abrir as janelas e as
portas, para que os aromas e as brumas se espalhem pelas matas e pelos campos,
pelos sertões e pelas catingas. Por praças e viadutos. Dutos de ar para
ventilação, do sótão e do porão.
Vá aos poucos acrescentando
uns e outros, da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda, não
importa. Esquerdas e direitas são óleo e água antes dos votos e das coligações,
passando para farinhas do mesmo saco, depois dos resultados de mercado e votação.
Vá mexendo a cada mistura
vagarosamente com pensamentos vagos e passageiros. Havendo muito espaço em
torno do fogão pode-se com uma grande colher, tal como um remo, remar e
circular em volta do caldeirão com a colher enorme na mão, favorecendo e
promovendo uma mistura e uma coreografia para uma nova canção.
À medida que for mexendo e
aquecendo a diluição, vá aumentando os giros dos pensamentos e dos movimentos.
Por fim e por necessidade, misture agora mais vigorosamente. Com pensamentos
rápidos, ardentes e eficientes. Tudo junto e misturado, cozido e caramelizado.
Mexer até a situação e o
caldo engrossar. Mas cuidado para não entornar. Para finalizar e terminar é
melhor esperar esfriar e decantar.
Rio de Janeiro/RJ ─
06/09/2014
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Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento; alimentos
Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento; alimento
Key Words: management; quality; knowledge; foods
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Seitas e receitas (1)
Ingredientes
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Seitas e receitas (2)
Modo de preparo
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Modos de servir
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